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Lisboa: A Rota para se Tornar o "Silicon Valley da Europa"

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  • 28 de out. de 2024
  • 5 min de leitura

Lisboa está a emergir como um polo promissor de inovação tecnológica na Europa. Um ecossistema de startups em crescimento, políticas de incentivo governamental, custo de vida acessível e uma alta qualidade de vida estão a impulsionar a capital portuguesa a aspirar ao título de "Silicon Valley da Europa". Contudo, Lisboa enfrenta desafios significativos que precisam ser superados para alcançar esse objetivo ambicioso. Abaixo, analisamos as oportunidades, desafios e políticas necessárias para consolidar Lisboa como um dos principais centros tecnológicos europeus.



O Crescimento do Ecossistema de Startups

Nos últimos anos, Lisboa tem visto um crescimento expressivo no número de startups tecnológicas, muito impulsionado pelo Web Summit, que atrai mais de 70.000 participantes de 160 países anualmente. Empresas como Farfetch, Unbabel e OutSystems são exemplos de startups portuguesas que se tornaram líderes globais, ajudando a atrair mais investimento e talento para a cidade. Hoje, Lisboa abriga mais de 2.000 startups (2023), sinalizando um ecossistema dinâmico e vibrante.


Eventos como o Web Summit aumentaram a visibilidade de Lisboa e alimentaram uma mentalidade empreendedora. No entanto, para sustentar esse crescimento e consolidar-se como um polo tecnológico global, Lisboa precisa enfrentar alguns desafios estruturais.



Custo e Qualidade de Vida: Vantagens Competitivas

Lisboa destaca-se pelo seu custo de vida mais baixo em comparação com outras capitais tecnológicas europeias. Este fator permite que startups reduzam custos operacionais e invistam mais em inovação. Por exemplo, enquanto a renda média mensal em Londres é de €2.300, em Lisboa ronda os €1.200, tornando a cidade uma opção mais acessível para empreendedores.


Para além do fator económico, Lisboa oferece uma qualidade de vida invejável. Com um clima ameno, uma cultura rica e um estilo de vida equilibrado, a cidade é um destino preferido para nómadas digitais e empreendedores que desejam combinar trabalho e vida pessoal. Estes são atributos difíceis de replicar noutras cidades e que devem ser aproveitados para atrair talentos e investimentos internacionais.



Iniciativas Governamentais: Esforços que Precisam de Reforço

O governo português tem feito esforços consideráveis para criar um ambiente acolhedor para empresas tecnológicas. Programas como o Startup Visa e o Tech Visa foram criados para atrair empreendedores e talentos estrangeiros. Além disso, o governo disponibilizou um fundo de €200 milhões para co-investimentos, demonstrando um compromisso real com o setor. Agências como a Startup Portugal e a Lisboa Investment Agency desempenham papéis importantes no apoio a startups.

Apesar destes esforços, Portugal ainda está atrás de outros países europeus no que diz respeito ao volume de investimento. Em 2022, as startups portuguesas captaram €450 milhões, comparado com €30 mil milhões em Londres, €10,5 mil milhões em Berlim, e €8,4 mil milhões em Paris. Estes números mostram que, apesar do progresso, há uma grande disparidade no acesso ao capital, e Lisboa precisa de medidas mais robustas para atrair investidores e fomentar uma cultura de capital de risco.

Localização Estratégica: Lisboa no Centro das Rotas Globais


Lisboa tem uma posição geográfica vantajosa. Localizada na costa atlântica, a cidade serve como uma ponte natural entre a Europa, África e as Américas, oferecendo vantagens estratégicas para empresas que procuram expandir-se globalmente. Com voos diretos para grandes cidades como Londres, Nova Iorque e São Paulo, Lisboa está bem conectada, facilitando o comércio e a colaboração internacional.

Esta conectividade é um dos maiores trunfos da cidade e pode atrair empresas que veem Lisboa como um ponto de entrada estratégico para diferentes mercados globais. Para capitalizar esta vantagem, é essencial que a infraestrutura de transporte e comunicação continue a evoluir para acompanhar o crescimento do ecossistema tecnológico.



Força de Trabalho: Talento Qualificado e Desafios de Retenção

Portugal possui universidades que formam anualmente mais de 90.000 graduados, muitos deles nas áreas de engenharia, tecnologia e negócios. A proficiência em inglês é elevada, facilitando a integração de empresas internacionais. O investimento em educação STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) fornece uma base sólida para o crescimento contínuo do setor tecnológico em Lisboa.


No entanto, o país enfrenta uma "fuga de cérebros," com muitos jovens talentos a emigrar em busca de melhores oportunidades no estrangeiro. Esta dificuldade em reter profissionais qualificados é um dos maiores desafios para Lisboa se consolidar como um polo tecnológico. Para resolver este problema, é necessário criar não apenas empregos, mas carreiras de longo prazo que ofereçam condições de trabalho competitivas e atraentes.



Competição com Outros Polos Tecnológicos Europeus

  1. Berlim, Alemanha:

    • Berlim é um exemplo de sucesso na reinvenção como centro tecnológico, com uma cultura criativa e forte presença de capital de risco. Em 2022, startups em Berlim arrecadaram €10,5 mil milhões. Lisboa precisa de aprender com esta estratégia e fortalecer sua infraestrutura de financiamento para competir.


  2. Londres, Reino Unido:

    • Londres continua a ser o principal centro tecnológico europeu, arrecadando €30 mil milhões em 2022. Apesar do Brexit, a cidade mantém a sua posição como um hub global de inovação. Lisboa pode posicionar-se como uma alternativa na UE, aproveitando o seu custo de vida mais baixo e um ambiente de negócios acolhedor.


  3. Paris, França:

    • Com o apoio de La French Tech, Paris emergiu como um dos principais polos tecnológicos, atraindo €8,4 mil milhões em 2022. Para competir, Lisboa precisa de expandir programas de apoio governamental e desenvolver mais hubs de inovação.


  4. Barcelona, Espanha:

    • Barcelona é um competidor direto de Lisboa, com um custo de vida semelhante e um ecossistema tecnológico dinâmico. A cidade é conhecida por setores como cidades inteligentes e tecnologia móvel. Lisboa deve reforçar as suas infraestruturas e destacar a sua localização estratégica para se diferenciar.


  5. Amesterdão, Países Baixos:

    • Amesterdão destaca-se pela eficiência e conectividade, além de um ambiente de negócios bem desenvolvido. Os Países Baixos ocupam a 24.ª posição no Índice de Facilidade de Fazer Negócios, refletindo um ambiente regulatório favorável. Lisboa deve simplificar sua burocracia para competir.



Recomendações de Políticas para o Governo Português

Para que Lisboa se consolide como o "Silicon Valley da Europa," são necessárias políticas claras e assertivas. Aqui estão algumas sugestões:


  1. Reforçar o Acesso a Financiamento:

    • Criar um Fundo Nacional de Capital de Risco para co-investir em setores emergentes como fintech, biotecnologia e energia verde, aumentando a disponibilidade de financiamento para startups.

    • Oferecer incentivos fiscais a investidores para encorajar o capital de risco e facilitar a captação de recursos.

    • Ampliar programas de subvenções e financiamentos para apoiar startups em fase inicial e fomentar a inovação.


  2. Simplificar a Burocracia:

    • Desenvolver uma plataforma digital para simplificar o registo e a gestão de empresas, reduzindo custos e tempos de espera.

    • Investir em serviços de e-governo para que empresas possam gerir todas as suas necessidades administrativas online, de forma rápida e eficiente.


  3. Desenvolver o Ecossistema Empresarial:

    • Criar hubs de inovação que promovam a colaboração entre startups, universidades e empresas estabelecidas, acelerando a comercialização de novas tecnologias.

    • Promover colaborações internacionais, reforçando ligações com outros polos tecnológicos e atraindo multinacionais para abrir centros de pesquisa e desenvolvimento.


  4. Apoiar o Desenvolvimento e Retenção de Talento:

    • Investir na educação STEM e apoiar programas de requalificação para garantir uma força de trabalho preparada para a economia digital.

    • Expandir programas como o Tech Visa para simplificar a contratação de talentos estrangeiros e atrair nómadas digitais.

    • Implementar incentivos fiscais para empresas que investem na formação e desenvolvimento dos seus colaboradores e apoiar soluções de habitação acessível para profissionais.



Conclusão

Lisboa tem um potencial real para se tornar o "Silicon Valley da Europa," mas isso exige um esforço coordenado entre o governo, as empresas e a comunidade local. Embora enfrente desafios como acesso limitado a financiamento, burocracia e dificuldades na retenção de talentos, a cidade tem vantagens claras que pode explorar. Com políticas estratégicas que reforcem o financiamento, simplifiquem processos e apoiem o desenvolvimento e retenção de talentos, Lisboa poderá afirmar-se como um destino de eleição para inovação e tecnologia, competindo lado a lado com os maiores polos tecnológicos da Europa.

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